APRENDIZ DE LEITOR
Uma página de alguém que, por influência e necessidade, decidiu dedicar mais tempo a leitura e ao devaneio. Consciente de que a produção textual é um desafio que se faz necessário a cada dia.
sábado, 10 de julho de 2010
QUADRO FERIDO
Conhecíamo-nos de tempos, só que dessa vez o respeito já não era tão necessário quanto na época em que te vi pela primeira vez. As palavras já não são mais tão selecionadas como eram. Pra quê? As formalidades realmente se foram de vez. Que pena?! Que nada!
De repente te encontro com outros olhos. Olhos que talvez estivessem um tanto quanto pervertidos pelo tempo e pela ausência de visões tão deslumbrantes como a que agora me deparo. Tão jovem ainda se comparada a minha idade. Não tão avançada assim, mas para você sempre foi motivo de gozação. Tentei não me importar muito com suas brincadeiras em relação a isso, mas às vezes, confesso, isso me chateava demais. Deveria ser o meu medo da real velhice que fazia isso comigo. Pintava um quadro.
12 de dezembro de 1980 – lá estava você naquele palco. Formatura. Eu não pudera sequer demonstrar o quanto sentia um enorme afeto por você. Seria estranho demais as pessoas perceberem o que eu sentia, sendo que não seria compreendido por ninguém. Estive ali todo o tempo, com os olhos fixados em você. Não poderia perder nenhum momento. Nenhum sorriso, ou quem sabe o olhar que eu ansiava receber. Depois de tanta falação chegou o meu momento. O de te dar o abraço de parabéns. Dei. Você não percebeu minha real intenção. Mas me deu, além do abraço, um belo e reluzente sorriso. Pintava um quadro.
02 de fevereiro de 1981 – você não mais pertencia ao meu grupo. Se fora. Agora participaria de outras tribos. Quem sabe essas seriam mais desenvolvidas do que as de antes. TALVEZ. O tempo é um ser que me perturba. E agora? Fui inconveniente e me fiz o convite para que eu pudesse te ver mais de perto. Foi inútil. Não sutil efeito algum. Pensei em desistir, só que era o que eu não queria. Minha mãe sempre me dizia: - Nunca desista meu filho! Nunca. – eu não poderia apagar assim um ensinamento tão belo.
Com o tempo as datas já não eram mais tão importantes assim. Deixemo-nas de lado. Continuemos a pintar o quadro.
Que tal o aconchego daquela poltrona. Tinha uma pedra no caminho. Eu sei que deveria fazer algo para eliminar qualquer empecilho, mas minha força não era ainda suficiente para removê-la dali. Foi preciso apenas esperar para que o ser tempo se encarregasse de desgastar a maldita pedra que me amarrava longe de você. O sopro foi forte. Sem barreiras agora. Tudo mais fácil. Mero engano. Sem novos traços na pintura.
Percebi que o cacau é um bem que trabalha em nosso favor. Não era comprar. Não no meu ponto de vista. Para outros... investimento alto. Fechar os olhos durante o período que me recostava no Divã não era nada agradável porque eu perderia preciosos momentos em que poderia, talvez, assistir seu sono. Mas o meu era de igual tamanho. Afinal estava ali há mais tempo que você.
Novas pedras no caminho, surgiram.
Surge o primeiro convite como algo do além. Foi tão de repente. Recusar seria abrir mão de possibilidades. Pode ter sido Zeus ou Deus? Sei lá; foi o destino. Não existe. Aquele ambiente muito me agradou e sabia que não poderia ficar apenas com a primeira viajem ao templo do encantamento. Tinha tanta gente lá. Não tive chance de me aproximar. Por esse motivo mesmo é que tive que batalhar pela nova possibilidade de estar aquele “bendito” lugar e continuar a pintar meu quadro.
Outra. Outras. E outras visitas. Todas por convites. Até o dia que não mais esperei por nenhum. Agora estávamos bem mais próximos. As viagens ao grande templo eram mais freqüentes. Eu não percebi, mas te cansei. Ou não. Ajudar-te na manutenção daquele lugar se tornara para mim um privilégio. Não percebeu? Agora, sim, eram investimentos.
Era tudo tão encantador. As esculturas e pinturas das paredes brilhavam como nunca. As câmeras que ali estavam para vigiar aquele que tocasse na mais preciosa das pinturas, chamada Rader, me vigiava todo o tempo. Algumas vezes eu hesitava em tocá-la, mas logo me dava conta do risco que estava correndo. Mas por que não cometer sequer uma infração? Cometi várias. Se me arrependo? Só pelo que eu não pude fazer na época.
Não resisti. Levei Rader para casa. Devia haver um bruxo que transformasse aquela linda imagem em algo real para mim, mas minha descrença não permitia que eu buscasse esse recurso. Nem acreditava que daria certo algum dia. Eu queria simplesmente cuidar da bela pintura. Grafitada. Eu pintava o meu quadro com muita dificuldade.
A imagem que eu tinha visto no palco do dia doze de dezembro de 1980, agora estava na minha mão. Eu poderia acariciá-la ou deprecia-la. Só que as coisas tomaram outros rumos. Me apeguei demais a algo que não era meu. Havia roubado de outras pessoas. Pessoas estas que freqüentavam aquele templo há mais tempo que eu. Mas estava ai meu mal. ROUBAR!
Como era bonito acordar e ser coroado com aquele sorriso, em alguns dias, tão sombrio, mas logo se transformava no mais belo diamante e me alegrava. Eu compenetrado nas imagens que me vinha à cabeça. E se alguém ousasse te roubar de mim? Era possível sim. Afinal era uma das jóias mais precisas daquele lugar que ,às vezes, me perturbava. Trazia paz. Era paradoxo interminável.
Na noite de 1987, após o delicioso jantar, peguei a tesoura mais afiada que encontrei e comecei, em um ato involuntário, a perfurar todo o retrato de Raider. Era meu retrato, ou de mais ninguém. Nossa. Esse era um pensamento que eu sempre expulsava da minha cabeça. Mas isso não vem ao caso. Quero apenas relatar como eu consegui ferir você naquele dia. Não compreendi o que fizera.
Já que as palavras não eram mais escolhidas. Comecei a atirá-las como pedras ao léu. Palavras não são pedras, porém perfuram tanto quanto. Eu chorava depois. Você, rasgada. Apagada. Imersa em lágrimas.
Eu não entendia da mente tão bem quanto você. Iniciante ainda.
Na ultima noite que te vi. Estava diferente. Cativante. Pena! Eu estava armado. Te feri como nunca. Tive que sair correndo e deixar você sangrando. Naquela noite sombria me recusei a dormir. Precisava refletir sobre o que havia feito. Tentei consertar, mas você sangrava demais para poder me ouvir. Não ouviu ninguém. Eu, sem palavras. Peguei tudo que tinha e parti. Para bem longe. E prometi que naquela noite seria a ultima em que eu ferira você. Talvez agora eu perca você para sempre. Ou talvez eu repense ações que firam não a face, mas o coração. Sinto muito. Preciso do seu perdão.
sexta-feira, 26 de março de 2010
ALGARISMOS
Não procuravam um ao outro. Como que por ironia ou vontade do destino, se é que isso realmente existe, se acharam. Juntos. Naquela noite, passeando por lugares, até então, pouco explorados. Lá estavam. Cada um vivendo em seu mundo e nem imaginando o mundo do outro. Quando subitamente surge o convite para a conversa. Com receio, mas pouco medo do ser desconhecido, o convidado aceitou, e, partiram para um lugar bem mais reservado que aquele onde estavam pela primeira vez.
A princípio era algo tão comum. Até mesmo porque já havia acontecido outras vezes. E no pensamento vinha sempre a frase de que aquela conversa seria apenas mais uma e de que nada passaria daquilo. Outra simples ilusão e possível sofrimento estavam nascendo.
Pela madrugada iam e os olhos já lacrimejavam refletindo o cansaço dos corpos que haviam se ocupado de atividades desgastantes durante o dia. As conversas eram das mais diversas, falaram sobre tudo, história, geografia, matemática, língua portuguesa e até ensino de idiomas, mas em nenhum momento falaram sobre coisas da vida pessoal. Mantiveram em sigilo essa parte. Ainda era muito cedo para confiar em alguém desconhecido. Duas pessoas que se entendiam nas conversas intelectuais, uma conhecedora a fundo das exatas, a outras, das humanas. Eram seres totalmente opostos.
Hora de se despedir e combinar o próximo encontro, mas não deu tempo porque uma queda de energia fez com que não dissessem nem mesmo um simples adeus. E de repente não mais se encontravam frente a frente. Tentaram se achar logo em seguida, mas a escuridão e o silêncio daquela madrugada não permitiram. Quem sabe no outro dia pudesse voltar aquele lugar e se encontrar de novo. Mas sabiam apenas um nome, e, para piorar, não era confiável. Podia ter qualquer outro. E se fosse um nickname. Não. Já estava viajando para o mundo da informática. Não seria nickname e sim codinome.
Combinaram um código que facilitasse o reencontro. Um deles acatou com entusiasmo. Agora o sinal que uma criou havia se tornado como parte da outra. Que ideia geniosa, pensaram. Porém, a tal inspiração falhou e o código se perdeu entre tantos outros que se podia ter acesso.
Saiu à procura na noite seguinte. Passava por vários lugares onde possivelmente poderia estar àquela criatura por quem tanto havia se encantado. Incansavelmente gastava seu tempo com olhares atentos a cada movimento. Ia e vinha. Não importava a hora, o que queria era rever quem tanto lhe trouxera graça na noite anterior. Como um inseto que cava e nada vê, assim era sua persistência, mas infelizmente, voltou triste para casa como quem perde o bonde da esperança.
Não podia deixar que acabasse algo que nem havia começado. Decidida saiu outra vez à procura da jóia preciosa. Dessa vez com maior disposição e decidiu até mesmo se arriscar em um diálogo com uma pessoa estranha que achava ser aquela com a qual se encontrara antes. Só que no decorrer dos fatos, percebeu que não era ela. Totalmente decepcionada, outra vez, retorna sem notícias. Mas era apenas o começo daquela caçada. Não desistiria fácil.
A busca foi incessante por semanas. Todos os dias, mesmo com dores pelo corpo se arrumava e saia invocando ajuda dos deuses para que a encontrasse ao menos mais uma vez. Não havia explicação para que estivesse se sentindo tanta falta de alguém que mal conhecera. Isso se tornava cada vez mais surreal.
Caminhava outra vez pelas ruas desertas e ao mesmo tempo tão movimentadas. O perigo estava ali. Logo à sua frente, mas aparentemente nada amedrontava sua busca incansante. Olhava cada passo dado para ter a certeza de que não havia deixado para traz quem tanto queria encontrar logo à frente. Outra vez, olhando o vento tocar as folhas secas que estavam caídas no chão daquela avenida deserta, volta para casa cabisbaixa. A tristeza agora já não mais batia a porta, mas invadia sem piedade aquele coração amolecido por uma pessoa desconhecida.
E mais uma vez saiu. Colocou uma blusa aconchegante para que o frio não lhe perturbasse a busca. Aquela blusa, amarela, com capuz e bolsos para esquentar as mãos. Preferia tê-las frias para assim se sentir mais eufórica. Depois de muito caminhar sente que já não agüenta mais aquela brisa gelada tocando-lhe a ponta dos dedos. Coloca-os nos bolsos e sente, do lado direito, um pedacinho de papel mal dobrado, na verdade quase amassado. Certamente, mas um lixinho que guardava para não sujar as vias públicas daquela cidadela. Ignorou e prosseguiu. Não o cansaço pela busca inútil, mas o frio insuportável da madrugada fez com que voltasse ao lar sem nenhum sinal.
Já em seu quarto, aparentemente aconchegante, começa a se desfazer de todas aquelas roupas que usava. Começando pela blusa que já a fazia suar por tanto ter caminhado. Não poderia ter jogado aquele papel na rua. Aquele arquétipo de uma bola que alunos jogam uns nos outros, mas agora era hora de jogar no cesto de lixo que se encontrava na varanda da casa. Prefere jogá-lo ali mesmo no canto do quarto que tinha cada coisa em seu lugar. Olhava para os livros que estavam sobre o criado mudo. Havia várias leituras por acabar, só que se achava sem ânimo para adiantar qualquer uma delas. Era sempre melhor deixar para o outro dia porque leria com mais tranqüilidade as incríveis obras de Machado de Assis e Álvares de Azevedo, e agora ainda mais um começado, Contos Russos. Observava atentamente as cores daquelas paredes. Escolheu as cores que mais amava, verde e azul, com exceção da branca que lhe agredia os olhos tão sensíveis e coloridos artificialmente. Tudo aquilo parecia simbólico demais, mas não tinha razão de ser.
Do fim do corredor um silêncio invadia seu espaço. Não causa-lhe medo, mas trazia pensamentos sombrios da infância conturbada que vivera. Mantinha sempre a porta fechada para que o corredor não a fizesse se lembrar de tantas coisas ruins. Pegou um dos livros, mas preferiu ouvir músicas. Agora já não mais ouvia as de costume. As que lhe disseram que deveria ouvir. Desde o dia que encontrara com tal criatura muita coisa fora mudada em seu interior. A música, nem sempre suave, tocava seus tímpanos e acabava lhe perturbando o sono porque ainda não tinha costume. Mas estava disposta a aprender. Afinal aquilo era mais que natural para todos de sua família ausente. Ao som, adormeceu com esperanças de uma nova procura e que fosse satisfatória no próximo dia. Já estava se cansando de tudo aquilo e percebendo que não mais adiantaria perder tanto sono e se arriscar pelas noites por algo tão duvidoso.
Colocar as roupas sujas da noite anterior no cesto era uma das primeiras atividades a serem realizadas na nova manha que nascia. Dar uma morada digna aquele pequeno papel, que até agora não se incomodara em conferir o que era. Não tinha importância, com certeza não se passava de mais um daqueles que guardava nos bolsos e depois os encontrava todos embolados pela máquina de lavar. Mas a textura desse pequeno enrolado era, de fato, diferente dos demais. Decidiu conferir e outra vez confirmou que não se passava de um endereço que anotara e colocara ali. A cabeça já estava cansada, mas funcionando bem. Lembrou-se de que não havia anotado endereço de ninguém na última semana e perturbou-se quando não recordava de forma alguma daquele papelzinho. Já que não conseguia trazer nada à memória sobre o fato, decide guardar aquele pequeno em um lugar que pudesse olhar depois. Na estante, feita na parede mesmo, decide colocá-lo ali porque talvez fosse o lugar mais seguro. Estaria bem longe das vassouradas da mão que era amante da limpeza.
Ao chegar do passeio que havia feito logo pela manhã ensolarada decide conferir o conteúdo do bilhete e agora percebe que aquela não era sua letra. Mas poderia ser porque, afinal, cada dia escrevia com uma caligrafia diferente. O que a levava a pensar que realmente não tivesse uma personalidade definida. Só que se forçava a pensar o contrário. Quem consegue fazer vários tipos de letras é agraciado porque não se prende a uma coisa apenas como sendo definitiva. Sendo assim, o que estava anotado ali podia ter sido escrito por sua mão própria com unhas roídas em excesso. Agora não podia mais roê-las.
A noite já se aproximava e depois de um banho colocou uma roupa que disfarçasse bem sua real identidade. Isso era secreto demais. Não poderia se expor saindo aquelas horas a procura de algo que ninguém poderia ajudar a encontrar.
Outro dia sem resultado. Busca perdida. Agora já em seu quarto aquele pequeno pedaço de papel encontrado no bolso da blusa amarela lhe desperta interesse. Ao pegá-lo percebe que há um número de telefone escrito. Porém, não consegui se lembrar de quem fosse aquele número. E nome? Não escrevera. Alguém não escreveu. Pegou o papel e se dirigiu ao telefone para tentar descobrir quem era o dono daquele número desconhecido. Ao discar percebe que não constam todos os números. Faltavam os últimos dois. Recorda-se de uma frase da pessoa com a qual conversara tempos atrás quando falavam sobre idade. “Os números nos enganam.” Não estava enlouquecendo.
Aquele número realmente poderia ser de quem tanto procurava. Imaginava com fé.
O desespero invade-lhe a alma porque mesmo com aqueles números em mãos era impossível descobrir quais eram os últimos dois. Haveria uma solução para isso e teria que começar de zero a zero percorrendo até o noventa e nove para descobrir de quem era mesmo aquele tão misterioso número. Era preciso comprovar as expectativas. Estava muito duvidoso. Por mais de duas horas tentou até o número cinqüenta. Já se sentia muito cansada e, como não morava só, havia mais pessoas que precisavam usar o telefone.
A outra parte teria que ficar para o dia seguinte. Não tinha mais condições para tal tarefa. Precisava de ajuda. Talvez a internet pudesse auxiliar a encontrar alguém que com mais rapidez descobrisse quais eram os algarismos ausentes. Precisava de alguém que tivesse intimidade com números. Havia na sua frente uma lista de matemáticos e físicos que fora dada pelo computador. Anotou o endereço de um matemático. Seria melhor que o físico para realizar esse simples trabalho. Probabilidade.
Agora era ter coragem de procurar um profissional para que ele socorresse aquele ser que cada dia mais se desesperava em busca de algo tão distante. Iludira-se demais com apenas uma conversa, mas havia recebido tantas informações naquele dia e que considerava importante repetir a dose. A mesma dose que já não tomava por semanas. Decidida. Se arruma e vai a procura do endereço que anotara ali.
Preferia a noite para realizar seus feitos que seriam condenados por sua família e amigos. Ninguém sabia do que se tratava aquelas saídas tão tarde. Mas ele, o lógico, quem havia marcado. Agora o medo invadia o coração desesperado daquela que como cão de caça ia atrás da presa. E se fosse muito caro aquele trabalho? O dinheiro não era pouco, mas poderia não ser suficiente mesmo assim. Não podia passar por tamanha humilhação. Decide ir.
Ao chegar ao local indicado. Casa número vinte e nove. Avista a campainha e se aproxima. Ainda podia desistir daquilo e voltar para casa sem nenhum constrangimento. Mas já estava ali e não poderia ser tão medrosa, como sempre fora, não agora. Busca forças e aperta chamando assim a atenção do morador que a aguardava. A porta se abre e ouve o convite para que entrasse. Aceita e adentra aquela sala super ampla, mas não era ali que seria atendida. Continua caminhando e logo avista uma pequena sala no final do corredor.
Era uma sala não muito iluminada, mas bastante aconchegante. Na estante avistava sombras de livros e logo à sua frente uma poltrona e lá sentado estava a pessoa que poderia ajudá-la a solucionar o tão delicado problema. Após minutos de conversas e depois de ter-lhe contato tudo o que estava acontecendo à sala se silenciou e nada mais se ouviu. Ele não havia feito nenhum cálculo, porém avisa que já sabia muito bem quais eram os dígitos que estavam omitidos. Impossível. Mas ele afirmou com muita certeza. Era preocupante.
Chegou a pensar que não fosse matemático e sim uma dessas pessoas que se dizem sensitivas e que talvez ele tivesse buscado recursos em coisas do além. Depois de pensar isso se sentiu completamente idiota. Não era nada daquilo que pensara. Ela decide perguntar como ele havia, tão rápido, descoberto quais eram aqueles números.Não há possibilidades, afirma. A resposta foi simples e única. “A maior possibilidade você já efetuou ao me encontrar”. Ela, subitamente, coloca-se de pé e disposta a sair daquele lugar pergunta quanto deveria pagar pelo trabalho. Nada. Foi a resposta. Espantada. Estarrecida. Nunca se sentira daquela forma.
Não seria tão inocente de acreditar de primeira nas palavras de alguém que sequer havia mostrado o rosto. Disse que não acredita que ele fosse a pessoa que tanto procurava. Ele decide, de certa forma, provar que o era. Mas seria impossível porque ela não acreditaria em nada daquilo. De repente ele começa a repetir tudo que eles haviam conversado na noite do primeiro encontro. Agora era um momento muito delicado porque não sabia mais o que fazer e arrepende-se por ter encontrado quem tanto procura. Estava completamente sem ação, porém, ele de repente levanta-se e de frente com ela segura-lhe a mão. O coração gela e as pernas já não mais estavam em bom estado. O medo gritava dentro dela; ele, com toda educação, apenas disse para que não tivesse medo de nada.
Vagarosamente a puxa pelas mãos e agora os dois se encontravam frente a frente, olhos nos olhos. Fitando um ao outro. Sem ação. Mas não queria mais sair dali sem ao menos saber o nome de quem tanto lhe encantara. Mas ele, vagarosamente, aproxima-se e faz com que seus lábios delicadamente toque os dela. Não deu tempo de perguntar pelo nome, apenas se deixou levar por aquele momento pelo qual esperava, ou não. Ela se afasta. E com um adeus se despede. O nome levara consigo em seu ouvido. Ele havia cochichado. Era um nome simbólico. Montado. Bonito.
Com passos largos ela corre de volta para casa. Era muito longe aquele lugar onde buscara ajuda e encontrara muito mais. Pegou o primeiro taxi que avistou e rumou para casa. Já era tarde quando conseguiu estar em seu quarto outra vez. Agora estava totalmente desesperada. O problema do qual queria solução não existia, pelo contrario, acabara de nascer um bem maior que o anterior. Não queria pensar assim porque aquele beijo fora tão bom. A boca carnuda fizera-lhe sentir-se saciada. Tão doce. Tão molhado.
Havia sido beijada por outras bocas. Estava sendo. Mas aquela fora, por demais, diferente. Incomparável. Precisava de repouso para colocar seus pensamentos no lugar e perceber que aquilo realmente havia acontecido.
Nesse dia usava sapatos marrons. Tira-os e coloca-os junto do tênis branco que usava em suas caminhadas no entardecer de todos os dias. Não tinha disciplina para tal façanha, mas era necessário deixar aquela vida de sedentarismo. Não tinha mais ânimo para academia. Pretendia retornar ainda naquele semestre que terminava a graduação. Desfez-se de todas as roupas que trajava e decide tomar um banho para se sentir, quem sabe, menos tensa. Foi excelente ideia. Dali pra frente não mais tirava aquele nome da cabeça. E não poderia esquecer aquele rosto. Aquele toque. Gosto.
A partir daquele dia muito de sua vida seria alterado. Não era uma simples paixão porque não acontecera apenas entre os dois. Isso envolvia mais gente na história. Ela não tinha com quem dividir o que sentira naquela noite. Seria arriscar demais procurar alguém que pudesse dividir sentimentos tão profundos. E tinha plena certeza da incompreensão. Sentia-se só mesmo naquela casa repleta de pessoas que a amavam.
CONTINUA
A princípio era algo tão comum. Até mesmo porque já havia acontecido outras vezes. E no pensamento vinha sempre a frase de que aquela conversa seria apenas mais uma e de que nada passaria daquilo. Outra simples ilusão e possível sofrimento estavam nascendo.
Pela madrugada iam e os olhos já lacrimejavam refletindo o cansaço dos corpos que haviam se ocupado de atividades desgastantes durante o dia. As conversas eram das mais diversas, falaram sobre tudo, história, geografia, matemática, língua portuguesa e até ensino de idiomas, mas em nenhum momento falaram sobre coisas da vida pessoal. Mantiveram em sigilo essa parte. Ainda era muito cedo para confiar em alguém desconhecido. Duas pessoas que se entendiam nas conversas intelectuais, uma conhecedora a fundo das exatas, a outras, das humanas. Eram seres totalmente opostos.
Hora de se despedir e combinar o próximo encontro, mas não deu tempo porque uma queda de energia fez com que não dissessem nem mesmo um simples adeus. E de repente não mais se encontravam frente a frente. Tentaram se achar logo em seguida, mas a escuridão e o silêncio daquela madrugada não permitiram. Quem sabe no outro dia pudesse voltar aquele lugar e se encontrar de novo. Mas sabiam apenas um nome, e, para piorar, não era confiável. Podia ter qualquer outro. E se fosse um nickname. Não. Já estava viajando para o mundo da informática. Não seria nickname e sim codinome.
Combinaram um código que facilitasse o reencontro. Um deles acatou com entusiasmo. Agora o sinal que uma criou havia se tornado como parte da outra. Que ideia geniosa, pensaram. Porém, a tal inspiração falhou e o código se perdeu entre tantos outros que se podia ter acesso.
Saiu à procura na noite seguinte. Passava por vários lugares onde possivelmente poderia estar àquela criatura por quem tanto havia se encantado. Incansavelmente gastava seu tempo com olhares atentos a cada movimento. Ia e vinha. Não importava a hora, o que queria era rever quem tanto lhe trouxera graça na noite anterior. Como um inseto que cava e nada vê, assim era sua persistência, mas infelizmente, voltou triste para casa como quem perde o bonde da esperança.
Não podia deixar que acabasse algo que nem havia começado. Decidida saiu outra vez à procura da jóia preciosa. Dessa vez com maior disposição e decidiu até mesmo se arriscar em um diálogo com uma pessoa estranha que achava ser aquela com a qual se encontrara antes. Só que no decorrer dos fatos, percebeu que não era ela. Totalmente decepcionada, outra vez, retorna sem notícias. Mas era apenas o começo daquela caçada. Não desistiria fácil.
A busca foi incessante por semanas. Todos os dias, mesmo com dores pelo corpo se arrumava e saia invocando ajuda dos deuses para que a encontrasse ao menos mais uma vez. Não havia explicação para que estivesse se sentindo tanta falta de alguém que mal conhecera. Isso se tornava cada vez mais surreal.
Caminhava outra vez pelas ruas desertas e ao mesmo tempo tão movimentadas. O perigo estava ali. Logo à sua frente, mas aparentemente nada amedrontava sua busca incansante. Olhava cada passo dado para ter a certeza de que não havia deixado para traz quem tanto queria encontrar logo à frente. Outra vez, olhando o vento tocar as folhas secas que estavam caídas no chão daquela avenida deserta, volta para casa cabisbaixa. A tristeza agora já não mais batia a porta, mas invadia sem piedade aquele coração amolecido por uma pessoa desconhecida.
E mais uma vez saiu. Colocou uma blusa aconchegante para que o frio não lhe perturbasse a busca. Aquela blusa, amarela, com capuz e bolsos para esquentar as mãos. Preferia tê-las frias para assim se sentir mais eufórica. Depois de muito caminhar sente que já não agüenta mais aquela brisa gelada tocando-lhe a ponta dos dedos. Coloca-os nos bolsos e sente, do lado direito, um pedacinho de papel mal dobrado, na verdade quase amassado. Certamente, mas um lixinho que guardava para não sujar as vias públicas daquela cidadela. Ignorou e prosseguiu. Não o cansaço pela busca inútil, mas o frio insuportável da madrugada fez com que voltasse ao lar sem nenhum sinal.
Já em seu quarto, aparentemente aconchegante, começa a se desfazer de todas aquelas roupas que usava. Começando pela blusa que já a fazia suar por tanto ter caminhado. Não poderia ter jogado aquele papel na rua. Aquele arquétipo de uma bola que alunos jogam uns nos outros, mas agora era hora de jogar no cesto de lixo que se encontrava na varanda da casa. Prefere jogá-lo ali mesmo no canto do quarto que tinha cada coisa em seu lugar. Olhava para os livros que estavam sobre o criado mudo. Havia várias leituras por acabar, só que se achava sem ânimo para adiantar qualquer uma delas. Era sempre melhor deixar para o outro dia porque leria com mais tranqüilidade as incríveis obras de Machado de Assis e Álvares de Azevedo, e agora ainda mais um começado, Contos Russos. Observava atentamente as cores daquelas paredes. Escolheu as cores que mais amava, verde e azul, com exceção da branca que lhe agredia os olhos tão sensíveis e coloridos artificialmente. Tudo aquilo parecia simbólico demais, mas não tinha razão de ser.
Do fim do corredor um silêncio invadia seu espaço. Não causa-lhe medo, mas trazia pensamentos sombrios da infância conturbada que vivera. Mantinha sempre a porta fechada para que o corredor não a fizesse se lembrar de tantas coisas ruins. Pegou um dos livros, mas preferiu ouvir músicas. Agora já não mais ouvia as de costume. As que lhe disseram que deveria ouvir. Desde o dia que encontrara com tal criatura muita coisa fora mudada em seu interior. A música, nem sempre suave, tocava seus tímpanos e acabava lhe perturbando o sono porque ainda não tinha costume. Mas estava disposta a aprender. Afinal aquilo era mais que natural para todos de sua família ausente. Ao som, adormeceu com esperanças de uma nova procura e que fosse satisfatória no próximo dia. Já estava se cansando de tudo aquilo e percebendo que não mais adiantaria perder tanto sono e se arriscar pelas noites por algo tão duvidoso.
Colocar as roupas sujas da noite anterior no cesto era uma das primeiras atividades a serem realizadas na nova manha que nascia. Dar uma morada digna aquele pequeno papel, que até agora não se incomodara em conferir o que era. Não tinha importância, com certeza não se passava de mais um daqueles que guardava nos bolsos e depois os encontrava todos embolados pela máquina de lavar. Mas a textura desse pequeno enrolado era, de fato, diferente dos demais. Decidiu conferir e outra vez confirmou que não se passava de um endereço que anotara e colocara ali. A cabeça já estava cansada, mas funcionando bem. Lembrou-se de que não havia anotado endereço de ninguém na última semana e perturbou-se quando não recordava de forma alguma daquele papelzinho. Já que não conseguia trazer nada à memória sobre o fato, decide guardar aquele pequeno em um lugar que pudesse olhar depois. Na estante, feita na parede mesmo, decide colocá-lo ali porque talvez fosse o lugar mais seguro. Estaria bem longe das vassouradas da mão que era amante da limpeza.
Ao chegar do passeio que havia feito logo pela manhã ensolarada decide conferir o conteúdo do bilhete e agora percebe que aquela não era sua letra. Mas poderia ser porque, afinal, cada dia escrevia com uma caligrafia diferente. O que a levava a pensar que realmente não tivesse uma personalidade definida. Só que se forçava a pensar o contrário. Quem consegue fazer vários tipos de letras é agraciado porque não se prende a uma coisa apenas como sendo definitiva. Sendo assim, o que estava anotado ali podia ter sido escrito por sua mão própria com unhas roídas em excesso. Agora não podia mais roê-las.
A noite já se aproximava e depois de um banho colocou uma roupa que disfarçasse bem sua real identidade. Isso era secreto demais. Não poderia se expor saindo aquelas horas a procura de algo que ninguém poderia ajudar a encontrar.
Outro dia sem resultado. Busca perdida. Agora já em seu quarto aquele pequeno pedaço de papel encontrado no bolso da blusa amarela lhe desperta interesse. Ao pegá-lo percebe que há um número de telefone escrito. Porém, não consegui se lembrar de quem fosse aquele número. E nome? Não escrevera. Alguém não escreveu. Pegou o papel e se dirigiu ao telefone para tentar descobrir quem era o dono daquele número desconhecido. Ao discar percebe que não constam todos os números. Faltavam os últimos dois. Recorda-se de uma frase da pessoa com a qual conversara tempos atrás quando falavam sobre idade. “Os números nos enganam.” Não estava enlouquecendo.
Aquele número realmente poderia ser de quem tanto procurava. Imaginava com fé.
O desespero invade-lhe a alma porque mesmo com aqueles números em mãos era impossível descobrir quais eram os últimos dois. Haveria uma solução para isso e teria que começar de zero a zero percorrendo até o noventa e nove para descobrir de quem era mesmo aquele tão misterioso número. Era preciso comprovar as expectativas. Estava muito duvidoso. Por mais de duas horas tentou até o número cinqüenta. Já se sentia muito cansada e, como não morava só, havia mais pessoas que precisavam usar o telefone.
A outra parte teria que ficar para o dia seguinte. Não tinha mais condições para tal tarefa. Precisava de ajuda. Talvez a internet pudesse auxiliar a encontrar alguém que com mais rapidez descobrisse quais eram os algarismos ausentes. Precisava de alguém que tivesse intimidade com números. Havia na sua frente uma lista de matemáticos e físicos que fora dada pelo computador. Anotou o endereço de um matemático. Seria melhor que o físico para realizar esse simples trabalho. Probabilidade.
Agora era ter coragem de procurar um profissional para que ele socorresse aquele ser que cada dia mais se desesperava em busca de algo tão distante. Iludira-se demais com apenas uma conversa, mas havia recebido tantas informações naquele dia e que considerava importante repetir a dose. A mesma dose que já não tomava por semanas. Decidida. Se arruma e vai a procura do endereço que anotara ali.
Preferia a noite para realizar seus feitos que seriam condenados por sua família e amigos. Ninguém sabia do que se tratava aquelas saídas tão tarde. Mas ele, o lógico, quem havia marcado. Agora o medo invadia o coração desesperado daquela que como cão de caça ia atrás da presa. E se fosse muito caro aquele trabalho? O dinheiro não era pouco, mas poderia não ser suficiente mesmo assim. Não podia passar por tamanha humilhação. Decide ir.
Ao chegar ao local indicado. Casa número vinte e nove. Avista a campainha e se aproxima. Ainda podia desistir daquilo e voltar para casa sem nenhum constrangimento. Mas já estava ali e não poderia ser tão medrosa, como sempre fora, não agora. Busca forças e aperta chamando assim a atenção do morador que a aguardava. A porta se abre e ouve o convite para que entrasse. Aceita e adentra aquela sala super ampla, mas não era ali que seria atendida. Continua caminhando e logo avista uma pequena sala no final do corredor.
Era uma sala não muito iluminada, mas bastante aconchegante. Na estante avistava sombras de livros e logo à sua frente uma poltrona e lá sentado estava a pessoa que poderia ajudá-la a solucionar o tão delicado problema. Após minutos de conversas e depois de ter-lhe contato tudo o que estava acontecendo à sala se silenciou e nada mais se ouviu. Ele não havia feito nenhum cálculo, porém avisa que já sabia muito bem quais eram os dígitos que estavam omitidos. Impossível. Mas ele afirmou com muita certeza. Era preocupante.
Chegou a pensar que não fosse matemático e sim uma dessas pessoas que se dizem sensitivas e que talvez ele tivesse buscado recursos em coisas do além. Depois de pensar isso se sentiu completamente idiota. Não era nada daquilo que pensara. Ela decide perguntar como ele havia, tão rápido, descoberto quais eram aqueles números.Não há possibilidades, afirma. A resposta foi simples e única. “A maior possibilidade você já efetuou ao me encontrar”. Ela, subitamente, coloca-se de pé e disposta a sair daquele lugar pergunta quanto deveria pagar pelo trabalho. Nada. Foi a resposta. Espantada. Estarrecida. Nunca se sentira daquela forma.
Não seria tão inocente de acreditar de primeira nas palavras de alguém que sequer havia mostrado o rosto. Disse que não acredita que ele fosse a pessoa que tanto procurava. Ele decide, de certa forma, provar que o era. Mas seria impossível porque ela não acreditaria em nada daquilo. De repente ele começa a repetir tudo que eles haviam conversado na noite do primeiro encontro. Agora era um momento muito delicado porque não sabia mais o que fazer e arrepende-se por ter encontrado quem tanto procura. Estava completamente sem ação, porém, ele de repente levanta-se e de frente com ela segura-lhe a mão. O coração gela e as pernas já não mais estavam em bom estado. O medo gritava dentro dela; ele, com toda educação, apenas disse para que não tivesse medo de nada.
Vagarosamente a puxa pelas mãos e agora os dois se encontravam frente a frente, olhos nos olhos. Fitando um ao outro. Sem ação. Mas não queria mais sair dali sem ao menos saber o nome de quem tanto lhe encantara. Mas ele, vagarosamente, aproxima-se e faz com que seus lábios delicadamente toque os dela. Não deu tempo de perguntar pelo nome, apenas se deixou levar por aquele momento pelo qual esperava, ou não. Ela se afasta. E com um adeus se despede. O nome levara consigo em seu ouvido. Ele havia cochichado. Era um nome simbólico. Montado. Bonito.
Com passos largos ela corre de volta para casa. Era muito longe aquele lugar onde buscara ajuda e encontrara muito mais. Pegou o primeiro taxi que avistou e rumou para casa. Já era tarde quando conseguiu estar em seu quarto outra vez. Agora estava totalmente desesperada. O problema do qual queria solução não existia, pelo contrario, acabara de nascer um bem maior que o anterior. Não queria pensar assim porque aquele beijo fora tão bom. A boca carnuda fizera-lhe sentir-se saciada. Tão doce. Tão molhado.
Havia sido beijada por outras bocas. Estava sendo. Mas aquela fora, por demais, diferente. Incomparável. Precisava de repouso para colocar seus pensamentos no lugar e perceber que aquilo realmente havia acontecido.
Nesse dia usava sapatos marrons. Tira-os e coloca-os junto do tênis branco que usava em suas caminhadas no entardecer de todos os dias. Não tinha disciplina para tal façanha, mas era necessário deixar aquela vida de sedentarismo. Não tinha mais ânimo para academia. Pretendia retornar ainda naquele semestre que terminava a graduação. Desfez-se de todas as roupas que trajava e decide tomar um banho para se sentir, quem sabe, menos tensa. Foi excelente ideia. Dali pra frente não mais tirava aquele nome da cabeça. E não poderia esquecer aquele rosto. Aquele toque. Gosto.
A partir daquele dia muito de sua vida seria alterado. Não era uma simples paixão porque não acontecera apenas entre os dois. Isso envolvia mais gente na história. Ela não tinha com quem dividir o que sentira naquela noite. Seria arriscar demais procurar alguém que pudesse dividir sentimentos tão profundos. E tinha plena certeza da incompreensão. Sentia-se só mesmo naquela casa repleta de pessoas que a amavam.
CONTINUA
terça-feira, 16 de fevereiro de 2010
TROCA DE SENTIDOS
Fazer distinção entre certos conceitos da língua portuguesa é bastante complicado para nós brasileiros. Imagina para um estrangeiro então. Quase todos os dias deparamo-nos com novas palavras, para os lingüistas, léxicos, que nos deixam com muitas dúvidas. Palavras essas que nunca se ouviu antes. Por exemplo: fale-me sobre o emprego da próclise, mesóclise e ênclise. Meu Deus! Isso foi, demasiadamente, constrangedor. E assim vários são os desafios que nos são lançados no nosso dia a dia como por exemplo distinguir educação de humildade.
Depender de transporte coletivo é extremamente cansativo, mas às vezes, ou quase sempre é necessário encará-lo de dentro ou por dentro. É uma loucura. Você anda muito para pegar o bendito. Interessante é que quando se consegue um banco logo vem àquela velhinha toda torta e encosta, justamente, no seu assento. Agora é fingir que está dormindo. Talvez fosse um bom escape até alguém que está de pé, e não quer ver a sua felicidade, te dar aquela “cutucadinha” básica e dizer: “dê lugar a essa senhora meu rapaz”.
Sendo educado, certamente, qualquer pessoa levantaria. Outras, talvez, não. Depende do humor de cada um. Talvez não só do humor, da educação que receberam, ou da humildade que reside em seu coração. Tem dia que somos forçados a ir pelo humor, mas a educação grita mais alto. (Grita alto, essa é boa). É um desafio constante nos por à prova.
Observe. Se você anda mal arrumado, todo “largadão” as pessoas vão começar a rotulá-lo de HUMILDE só por causa da roupa aparentemente ruim. Estranho a gente relacionar roupas com ser humilde. Se você se levanta pra “bendita velha”, é humilde. Mas acredito que seja educação. Se gostar de ajudar alguém é porque é humilde. Pode ser prestatividade.
Uma pessoa disse a mim que eu precisava ser mais humilde. E eu sem pensar repondi que não existia pessoa mais humilde que eu. Fui chamado de soberbo e orgulhoso. Você não pode se achar humilde. Não sei por que não temos esse direito. Você não tem nada de humildade se anda de crossfox vermelho. E se alguém cai na besteira de dizer que um rico é humilde é, na hora, taxado de bajulador.
Segundo o dicionário Aurélio online humildade é: “s.f. Ausência completa de orgulho. / Rebaixamento voluntário por um sentimento de fraqueza ou respeito: praticar a humildade. / Modéstia, pobreza: apresentou-se na humildade de seu trajo. // Com toda a humildade, tão humildemente quanto possível.” Sendo assim, qualquer um pode ser humilde. Não há a necessidade de humildade todo o tempo. Isso seria ser desumano já que nós estamos dotados de toda espécie de sentimentos e acredito que todos eles se fazem necessários. Até mesmo aqueles que revelam a parte ruim de quem somos.
Que aprendamos que ceder assentos à velhinhos não prova que você é humilde. Pode ser apenas uma bonita demonstração de educação e, sinceramente, fazemos isso pela pressão que nos é imposta nesses meios de transportes. Acredito que não tenha respondido á pergunta que você me fez em relação ao que era ser humilde ou humildade. Se lá. Apenas lembrei do assunto.
Depender de transporte coletivo é extremamente cansativo, mas às vezes, ou quase sempre é necessário encará-lo de dentro ou por dentro. É uma loucura. Você anda muito para pegar o bendito. Interessante é que quando se consegue um banco logo vem àquela velhinha toda torta e encosta, justamente, no seu assento. Agora é fingir que está dormindo. Talvez fosse um bom escape até alguém que está de pé, e não quer ver a sua felicidade, te dar aquela “cutucadinha” básica e dizer: “dê lugar a essa senhora meu rapaz”.
Sendo educado, certamente, qualquer pessoa levantaria. Outras, talvez, não. Depende do humor de cada um. Talvez não só do humor, da educação que receberam, ou da humildade que reside em seu coração. Tem dia que somos forçados a ir pelo humor, mas a educação grita mais alto. (Grita alto, essa é boa). É um desafio constante nos por à prova.
Observe. Se você anda mal arrumado, todo “largadão” as pessoas vão começar a rotulá-lo de HUMILDE só por causa da roupa aparentemente ruim. Estranho a gente relacionar roupas com ser humilde. Se você se levanta pra “bendita velha”, é humilde. Mas acredito que seja educação. Se gostar de ajudar alguém é porque é humilde. Pode ser prestatividade.
Uma pessoa disse a mim que eu precisava ser mais humilde. E eu sem pensar repondi que não existia pessoa mais humilde que eu. Fui chamado de soberbo e orgulhoso. Você não pode se achar humilde. Não sei por que não temos esse direito. Você não tem nada de humildade se anda de crossfox vermelho. E se alguém cai na besteira de dizer que um rico é humilde é, na hora, taxado de bajulador.
Segundo o dicionário Aurélio online humildade é: “s.f. Ausência completa de orgulho. / Rebaixamento voluntário por um sentimento de fraqueza ou respeito: praticar a humildade. / Modéstia, pobreza: apresentou-se na humildade de seu trajo. // Com toda a humildade, tão humildemente quanto possível.” Sendo assim, qualquer um pode ser humilde. Não há a necessidade de humildade todo o tempo. Isso seria ser desumano já que nós estamos dotados de toda espécie de sentimentos e acredito que todos eles se fazem necessários. Até mesmo aqueles que revelam a parte ruim de quem somos.
Que aprendamos que ceder assentos à velhinhos não prova que você é humilde. Pode ser apenas uma bonita demonstração de educação e, sinceramente, fazemos isso pela pressão que nos é imposta nesses meios de transportes. Acredito que não tenha respondido á pergunta que você me fez em relação ao que era ser humilde ou humildade. Se lá. Apenas lembrei do assunto.
domingo, 24 de janeiro de 2010
NÃO GOSTO DISSO. URGH!
Ao nascer temos contato com um dos elementos primordiais à nossa existência. O leite materno. Muitas crianças nascem com uma enfermidade chamada refluxo, o que não permite que certos alimentos fiquem no estômago. E acabam, assim, regurgitando todas as vezes que se alimentam. Mas com o passar do tempo e com tratamentos tudo se resolve e começam a se alimentar normalmente.
Quando crescem começam a selecionar tipos de comida. Não por conta de doença agora, e sim por vontade própria. A mãe até que insiste várias vezes para que o filho como de tudo afirmando que é bom para o crescimento. Verduras, frutos, legumes e outros, mas é inútil porque aquilo que está sendo oferecido pode não ter o sabor que esperam e, sendo assim, preferem deletá-los de vez de todas as refeições.
Agora já freqüentando a escola as crianças se alimentam, não apenas de comidas comuns, mas de leituras que pouco agradam, não ao estômago, mas ao ego. Quando a professora pede leituras para casa é ilusão porque quase sempre chegam sem essas leituras realizadas. Existem raras exceções, é claro.
Já na universidade paramos e percebemos que não se alimentar de certas leituras que foram propostas tempos atrás nos faz falta hoje. Crescemos sim, mas com carência nessa área. Quando nos oferecem uma leitura que não gostamos, logo dizemos que não queremos nem ao menos ver a capa do livro. Quem sabe se provássemos sentiríamos grande prazer em degustar esse algo estranho.
Trilhar o universo da leitura, para muitos, é como se fosse engolir todas as comidas que se abomina. Ao ponto de pensar que pode se ter indigestão ou coisa assim. E tem. A cabeça dói, as vistas cansam, e dizemos não entender nada disso que lemos. É desafio constante manter-se nesse caminho. As letras, às vezes, nos sufocam, mas por outro lado abrem completamente nossa visão e nos faz ir além daquilo que vemos.
A leitura é um único caminho que nos tira da completa ignorância e nos auxilia a enxergar a sociedade em que vivemos com olhos mais críticos. Agora, depender de outros para sair desse submundo é não usufruir da inteligência que possuímos. Uma pessoa que muito adimiro e que considero importante disse: “Ou nos tornamos autodidatas, ou seremos eternamente burros”. Aceita?
segunda-feira, 4 de janeiro de 2010
UM TEXTO UM TANTO QUANTO SEM... NEXO.
Depois de muitas tentativas. Incontáveis até. Nada. Não funcionava. Porém, a persistência falava mais alto e não desistia de seu maior objetivo. Travar mais uma daquelas boas conversas
-Bom dia!
-Bom dia, como está?
-Bom as coisas não estão muito bem... Deixa pra lá.
-Mas... o ano mal começou, como as coisas parecem não estar muito bem? Não há razão.
-Nunca há razão pra nada. Tudo acontece de forma não planejada. Sabe, às vezes ou sempre, não consigo entender o motivo de várias coisas que me acontecem.
-É... acho que você tem razão. Mas devia levar as coisas menos a ferro e fogo. Assim você acaba se estressando menos.
- Não sou estressado.
- Mas eu não disse afirmando que você seja uma pessoa assim.
- Disse sim. O único problema é que me preocupo demais com tudo. Sei bem que existem algumas coisas que eu poderia deixar de lado, mas não consigo.
- Porque não tenta.
- Como assim não tento? Eu me mato de tentativas, porém, sempre frustradas.
-Você apenas diz não se preocupar... eu sei que você disfarça todo o tempo.
- Não. Você não sabe. Ou sabe? Espera. Me fala mais sobre esse EU SEI.
- É melhor deixar pra lá. Não me sinto bem para te dar explicações hoje.
- Tudo. Não insisto. Você conhece muito bem minha ansiedade. Mas, concordo com você. Esquece.
E a conversa continuava fluindo como rio. Um rio que às vezes dava de frente um com o outro e nas forças das correntezas originavam-se correntes elétricas.
- Hummmm... Que tal falarmos de coisas boas. Coisas que façam rir.
- Não sou comediante. (risos).
- É. Pode até não ser mesmo, mas que parece, parece.
- Sério? Acha então que eu levaria jeito pra palhaço? Tenho dom pra isso.
- Prefiro não dar uma resposta que parece ambígua demais aos seus ouvidos. Pode inervar.
- Fala. Tenho dom pra palhaçada né. Sabe, conheço uma pessoa, prefiro manter sigilo, que ri de tudo que falo. Acho que ela pensa igual a você. Que ao invés de professor eu deveria ser palhaço. É uma boa profissão.
- ( Muitos risos)
- Do que está rindo. De mim, pra mim, por mim...
- Da situação. Me diverte muito. (Mais risos).
- Onde está a graça disso tudo. Quero mudar de assunto.
Era tudo permitido. Todos os diálogos poderiam ali ser travados. Dependia da entonação e das pausas que se colocavam em cada momento.
-Todo bem mim. Mas eu estava gostando do anterior.
- Prefiro outra.
- O quê? Como asssim?
- Outra conversa oras. O que você pensou?
- Não pensei nada.
- Sei... não pensou nada.
- Estou dizendo que não.
- Percebo agora grande inversão na situação. Quem era a pessoa estressada aqui não era eu? Pois está demonstrando agora que no fundo você é pouco diferente de mim.
- É que fala umas coisas que acabam me confundindo. É o lance da ambigüidade que eu tento, a todo tempo, evitar, mas você pelo que percebo, não se importa em me deixar com confusão mental, no bom sentido.
- (Risos) Mas não há confusão mental no bom sentido.
- ...
- ...
Era bastante perceptível que essa conversa não se findaria por tão breve. E ali continuaram por muitas e muitas horas. Grandes descobertas. Mais e mais risos. Às vezes choro. Muitas vezes iam e vinham e no decorrer dos dias a mesma ação se repetia. Havia possibilidade de não se falarem. Muito raramente isso aconteceu. Não existem registros de nenhum dos diálogos travados. Excluíram as pastas que são registradas pela fantástica janela do Windows Live Messenger.
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